Estava sentado na plataforma do metrô completamente alheio a tudo e a todos. Apenas esperando um trem para continuar meu caminho.
Era tarde e a estação estava quase que em um silêncio surpreendente e com poucas pessoas próximas ao meu assento na plataforma.
“Com licença”, disse alguém ao se sentar no banco ao lado do meu. Era um rapaz bem apessoado e que, para meu completo espanto, logo já começou a dizer:
– Você sempre quis voar. E se eu dissesse que isso pode ser arranjado, toparia?
Eu ri meio sem graça e meio com medo, e apenas disse: “Desculpe, mas não entendi.” Mas é claro que eu tinha entendido e muito bem.
O rapaz apenas continuou:
-Você quer voar?
Eu, tentando soar descontraído e que aquela conversa nao estava me
soando nada bizarra, apenas consenti, mas disse que nesse mundo ainda é impossível voar sem nenhum equipamento atrelado ao indivíduo.
Quanto a isso ele garantiu que poderia dar um jeito, só quis, sem nenhuma explicação aparente, confirmar um sonho meu. Eu confirmei e disse que sim, adoraria poder voar. Mas daí veio a restrição:
– E se eu lhe dissesse que você não iria poder voar mais alto do que apenas 5 palmos do chão?
Logo pensei que seria uma droga. Qual a graça de voar sem poder tocar os céus? Sem poder abraçar as estrelas no cair da noite? Mas, enfim, nao teria nada a perder, ainda assim seria una experiência única, então eu apenas respondi que não faria diferença.
– Então, meu caro, que voe!
Pouco antes de levantar ele apenas comentou:
-Mas me diga só uma última coisa, e se você pudesse escolher entre voar a cinco palmos ou ter para si 1 milhão de moedas de ouro?
Sem hesitar, ri de forma sarcástica e disse: Que venha o dinheiro!
O rapaz apenas balançou a cabeça em sentido afirmativo, levantou-se e entrou no trem que ia para a direção oposta a minha. Não se despediu e nem disse uma palavra sobre essa conversa sem sentido dos últimos 5 minutos. Fui para casa apenas sem entender e rindo de mim mesmo.
Em meu quarto, de alguma forma que não me surpreendeu tanto, lá estavam, em exatos 27 sacos pretos enormes, 1 milhão de pequenas moedas de ouro.
Pirei. Ri. Não acreditei. Chorei. Tranquei a porta. Não falei para ninguém. Fiquei com medo. Fiquei feliz. Fiquei muito feliz. Chequei as janelas. Todas fechadas. Fiquei aliviado. Fiquei apavorado. Alo? É da pizzaria? Uma meia marguerita e meia catupiry com frango, por favor. Meia hora? Tá legal. Me traz troco para cinquenta? Ok, obrigado. Ri. Ri muito!
Gastei uma por uma. Muitas foram muito bem aplicadas, outras nem tanto. Algumas vezes fui superficial e comprei para o meu prazer coisas que eu nem sequer vou usar mais, e eu bem sabia que isso ia ocorrer. Em outras vezes ajudei pessoas, fiz doações e também fui assaltado. Bom, pelo menos ajudei indiretamente um marginal qualquer.
Fiz tudo o que eu queria e até o que eu nem sabia que um dia ia querer. Mas agora acabou.
Acabaram-se as moedas e eu estou aqui com algo que não sai da minha mente.
Aprovetei muito esses últimos anos de ouro e vida farta, mas fiz tudo o que qualquer um podia fazer um dia na vida. Fiz tudo o que o dinheiro compra.
E continuo com os pés no chão.
Nunca mais poderei voar.
De repente cinco palmos me pareceram uma altura tão grande.
Eu hesitei. De novo, eu hesitei.
Maldita seja essa insatisfação crônica do ser humano!
Eu quero voar.